"
Caminhante, não há caminho. Faz-se o caminho ao andar."
(Antonio Machado)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Serviço Social e avanços tecnológicos - Os novos desafios éticos acerca da atuação profissional.


Costuma-se definir nosso tempo como a era do conhecimento, e do processo de globalização das novas tecnologias. Elas estocam, de forma prática, o conhecimento e gigantescos volumes de informações. Assim, hoje, vivemos num mundo formado por rápidas e profundas mudanças, num mundo diferente, fruto da revolução tecnológica, do avanço das ciências, das surpreendentes descobertas no campo da cultura, da política e da economia, dos desafios éticos na era tecnológica.
Esse novo mundo está criando um ambiente mental e comportamental bem diferente que as gerações passadas. Esses novos tempos constituem um desafio à filosofia, que indaga: O que é o ser humano? Que tipo de ser é esse que conhece e age, mudando as discussões éticas. Qual a relação que existe entre ética, tecnociência e responsabilidade social?
O Biólogo Fernando Reinach mostra no documentário intitulado "A ignorância da ética" as discussões e novas reflexões éticas que se surgiram em função das novas descobertas científicas. O Professor alerta para a necessidade de se estar aberto para compreender que a ética em relação às ciências não pode mais ser tão fechada e rígida, já que novas descobertas e conceitos podem colocar até mesmo verdades em perspectiva. É neste contexto, que convém discutir as tecnologias da inteligência em sua relação com a ciência e a responsabilidade social. A ética, como a vida, é uma contínua descoberta de sentido e de estilos de se viver com dignidade.
É num cenário de convivência possível de um diálogo entre aspectos técnicos e humanísticos, entre a ideologia do progresso, a responsabilidade social e os interesses da vida humana que o Serviço Social se vê desafiado frente as contribuições da profissão frente as novas reflexões éticas. A medida que a ciência começa mexer com os seres vivos, perpassa pelos valores éticos e morais da sociedade, que demanda novas explicações. Inerente ao papel pedagógico do Serviço Social, acreditamos que educar as pessoas para as novas concepções sobre o significados e razões tecnológicas, nos obriga a repensar nossos modos tradicionais de conduta, e rever as formas de pensar, sentir e agir sobre essas realidades, que não se apresentam de forma linear, mas de modo plural.
Fernando Reinach discursa sobre as concepções da bioética, os desafios no debate contemporâneo do
Na concepção da análise de problemas enfrentados pela bioética, podemos considerar tres fatores essenciaias: A metafísica e a análise das noçoes de pessoa, vida, morte. Os problemas empíricos em torno da cientificidade e os problemas de valores éticos, costumes etc. Assim nos que é pertinente como assistentes socias, o direito a vida e a dignidade humana acreditamos que n
progresso das ciências e a colocação de novos interrogativos éticos sobre a capacidade de o ser humano administrar esse enorme poder. Hoje há certa autonomia em virtude dos enormes progressos científicos e tecnológicos das ciências da vida e, por outro lado, a crescente consciência da dignidade da pessoa humana, em particular na tradição cristã e no ensino da Igreja. Em virtude dessa autonomia, pode-se considerar a bioética como um setor da moral, cujos os fundamentos se aplicam sistematicamente aos mais variados problemas que surgem em torno da vida.esta perspectiva, urge um novo pensar do profissional, cujas bases sejam competência teórico-metodologica, o compromisso com a realização dos princípios éticos-politicos estabelecidos pelo código de ética profissional, buscando entender a gênese da questão social e situações particulares com as quais se defrontam o profissional, a partir da ótica dos direitos sociais, cidadania e democracia, visando rever os programas e serviços que se destinam a estas situações.
É preciso viabilizar o comprimento de um dever laico que ultrapasse juízos de valores e se posicione frente aos direitos humanos. Contudo, para se discutir temas relacionados aos avanços científicos que perpassem pelos valores da vida faz-se necessário considerar a luta por uma sociedade democrática. Existem vários temas polêmicos relacionados a vida, e muitos deles geram conflitos. É preciso pensar que o direito a vida passa pela garantia de dignidade e que interessa a todo mundo proteger e garantir a dignidade de cada um, num sentido em que a vida é comum a todos e a ela se atribui o mesmo valor. Trata-se de um ponto muito complexo, pois, de um lado, a Constituição Federal do Brasil 1988, protege o direito à vida e de outro lado, organizações dos direitos humanos trata de direitos específicos como o caso das mulheres, onde defendem o direito ao controle do próprio corpo, à saúde, e, em alguns casos, o próprio direito à vida da mãe. São muitos aspectos discordantes um do outro. É por isso que surgem conflitos quando se discute o aborto, pois não é uma questão simples.
Outro ponto muito polêmico ao direito à vida, que segundo o linguajar jurídico, é um direito inalienável, ou seja, é um direito no qual as pessoas não podem renunciar, nem se quiserem, é a eutanásia; quando uma pessoa decide encerrar a própria vida com ajuda de médicos, em geral aliado a uma doença incurável. Por outro lado, pessoas a favor da eutanásia argumentam que se trata do resgate da dignidade da pessoa: Se a medicina não pode fazer mais nada para curá-la, nem para lhe dar conforto, a morte se torna o último recurso para manter a dignidade da pessoa doente. Nesse caso, não se trata apenas de continuar vivo, mas ter uma vida digna e livre de sofrimento.
Poderíamos descrever vários exemplos acerca dos novos desafios éticos para o Serviço Social na sociedade contemporânea, contudo cabe a nós a reflexão ética do papel da profissão e de cada profissão considerando os determinismos históricos de cada época. A ética do assistente social, especificamente, guarda uma profunda relação com a ética social, enquanto tece considerações, avalia e emite juízos em relação ao homem, sua vida e seu relacionamento com o trabalho, com a família, ideologia, cultura e desejos. Enfim, com o homem inteiro. Significa o homem, no processo de produção de sua vida cultural, constrói valores, que passam a nortear as relações consigo e com os outros, constituindo-se o sujeito do processo de sociabilidade.
A condição de individualidade, exclusiva do homem, só pode ser realizada na relação com outros homens. A noção de indivíduo só pode ser construída na relação com o coletivo. Fora dessa reação, o indivíduo só tem existência biológica. A consciência do indivíduo social, portador de anseios, desejos, projetos, é resultado dessa interação social. É a existência ética, que valoriza, que projeta sua ação de forma autônoma e responsável, que qualifica, enriquece e torna complexo o processo de produção e reprodução humana. O Serviço Social é um fenômeno típico da sociedade capitalista e, como tal, não está isento das configurações alienadas da vida social, embora esteja permeado por escolhas de valores que, conectadas à construção de uma nova sociabilidade, possibilitam a instituição de referenciais ético-morais alternativos e críticos.